Terceira Conferência da ONU sobre os Oceanos Atraí Líderes e Especialistas para Nice
A cidade de Nice, localizada no belo litoral sul da França, se tornará o epicentro das discussões sobre a preservação dos oceanos, com a realização da terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que começa nesta segunda-feira (9). Estão presentes cerca de 100 chefes de Estado e governo, além de 30 mil cientistas e representantes da sociedade civil de diversos países. O evento tem como foco principal o fortalecimento da governança global e a aceleração da implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, que se relaciona à conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos.
A conferência, coorganizada pela França e Costa Rica, estabelece oito prioridades, incluindo a necessidade de pelo menos 60 países ratificarem o Tratado de Biodiversidade em Áreas Além da Jurisdição Nacional (BBNJ). Este tratado, que visa regular o uso de águas internacionais, foi assinado por 116 países, incluindo o Brasil, mas apenas 31 já o ratificaram. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em visita oficial à França, participará da sessão de abertura do evento.
O enviado da Presidência francesa para a conferência, Olivier Poivre D’Arvor, expressou a expectativa de que o encontro possa garantir o comprometimento de mais países com a ratificação do tratado. "Não se tem controle sobre 50% da superfície global. O BBNJ ainda não foi ratificado e esperamos que, até o fim deste ano, possamos ratificá-lo", enfatizou D’Arvor.
Uma Iniciativa Científica Global
Dentre as importantes iniciativas a serem apresentadas durante a conferência, a missão Neptune se destaca. Com um período de duração de 15 anos, essa missão global de exploração científica dos mares pretende ampliar o conhecimento sobre os oceanos. Novas ferramentas também serão introduzidas, como o "Mercator", um centro de pesquisas intergovernamental com foco na interconexão dos dados e tecnologias disponíveis. O projeto EU Digital Twin Ocean, um oceano virtual, permitirá testes em cenários sobre questões marinhas.
Outra novidade aguardada é o "Starfish Barometer", um relatório anual que deve avaliar o estado dos oceanos e as pressões humanas sobre eles, evidenciando os impactos sociais.
Durante cinco dias de debates, os participantes discutirão não apenas a conservação, mas também a descarbonização do transporte marítimo e a proteção de 30% do oceano até 2030. Os oceanos desempenham um papel crucial no equilíbrio climático do planeta, absorvendo calor da atmosfera. No entanto, as mudanças climáticas também têm causado significativas ameaças, como o aquecimento das águas e a elevação do nível do mar.
Mudanças Climáticas e seus Efeitos nos Oceanos
D’Arvor reforçou a importância de se entender que as mudanças climáticas já geram impactos irreversíveis. "Não será possível evitar o aumento do nível dos mares, mas podemos nos adaptar. Isso implica ter uma visão não apenas global, mas também local", explicou, mencionando exemplos como Jacarta, na Indonésia, onde cidades inteiras podem precisar ser deslocadas.
Adicionalmente, o enviado francês abordou a preocupação crescente com as alterações nas correntes marinhas, especialmente na Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC), vital para o equilíbrio climático global. A pesquisa sugere que o derretimento acelerado das geleiras na Groenlândia já está desequilibrando essa corrente.
Desafios e Oportunidades para a Mineração de Recursos Marinhos
Os debates na conferência também abordarão a questão da mineração em águas profundas, uma atividade que, apesar de recente, gera controvérsias. A extração de minérios do fundo do mar está se tornando uma realidade para alguns países, enquanto a exploração de petróleo continua a impactar negativamente as mudanças climáticas.
D’Arvor reconheceu as dificuldades de países que dependem de combustíveis fósseis, como o Brasil e a Arábia Saudita, em estabelecer uma transição para fontes energéticas mais sustentáveis. "Em 2017, a França aprovou a Lei Hulot, que proíbe novas frentes de exploração e a produção de petróleo. A discussão sobre esta questão continuará em Nice", destacou.
Além disso, a ausência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi um ponto lamentado por D’Arvor, que espera que os EUA voltem ao diálogo internacional sobre os oceanos em breve.
A terceira Conferência da ONU sobre os Oceanos se estenderá até sexta-feira (13), reunindo vozes que lutam pela proteção e utilização sustentável dos recursos marinhos, preparatória para a COP-30, que acontecerá em Belém em novembro, onde as questões oceanas serão centrais.
Conferência dos Oceanos reunirá líderes na França na próxima semana
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente