Nomes da Tecnologia dos EUA Ganham Patente Militar em Iniciativa do Exército
Em junho deste ano, o Exército dos Estados Unidos anunciou a nomeação de executivos de grandes empresas de tecnologia, entre elas Meta, OpenAI e Palantir, para o cargo de tenente-coronel do recém-criado Destacamento 201, destinado a líderes na área de tecnologia. Segundo o Exército, “a posse deles é apenas o começo de uma missão maior para inspirar mais profissionais de tecnologia a servir sem abandonar suas carreiras”, ressaltando a importância do envolvimento da próxima geração com as Forças Armadas.
A revelação coincide com a publicação do livro do sociólogo brasileiro Sérgio Amadeu da Silveira, intitulado As Big Techs e a Guerra Total: o Complexo Militar-Industrial-Dataficado, onde o autor denuncia a colaboração entre as Forças Armadas dos EUA e gigantes da tecnologia, como Google, Amazon e Microsoft, na utilização de Inteligência Artificial (IA) para operações militares. Segundo Amadeu, a IA tem sido empregada de forma letal, especialmente em conflitos, como os ocorridos na Faixa de Gaza. “O primeiro grande laboratório do uso de IA para fixação de alvos militares foi a Faixa de Gaza”, afirma ele, ao explicar como os dados coletados por essas empresas podem ser manipulados para identificar alvos a partir de interações em redes sociais.
Nesse contexto, a infraestrutura digital do Brasil é um ponto de preocupação. Amadeu enfatiza a necessidade de o país investir em uma plataforma digital soberana, destacando que o uso de tecnologia estrangeira nos setores públicos pode expor dados sensíveis a riscos de segurança. O recente lançamento da “Nuvem Soberana” pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, em parceria com o Serpro e a Dataprev, representa um passo em direção à autonomia digital, mas o sociólogo observa que ainda é insuficiente para enfrentar as políticas expansionistas dos EUA, relacionadas à vigilância e controle de dados.
Em entrevistas à Agência Brasil, Amadeu expõe várias facetas dessa discussão, explorando desde a influência das big techs em decisões militares até os impactos sobre a soberania digital brasileira. As preocupações incluem a dependência do Brasil em relação a essas empresas tecnológicas estrangeiras e a urgência de um investimento em uma infraestrutura digital própria, que garanta a segurança e a privacidade dos dados nacionais.
A seguir, seguem os principais trechos da entrevista com Sérgio Amadeu, que explicam a interseção entre tecnologia e operações militares, assim como as implicações para o Brasil.
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São Paulo (SP), 06.09.2024 – Sociólogo e professor da UFABC Sérgio Amadeu da Silveira. Foto: TV PUC/Reprodução
Como as big techs estão envolvidas com o negócio da guerra?
“As big techs nasceram de atividades nas redes sociais e como mecanismos de busca, mas foram se tornando verdadeiros oligopólios, engolindo outras empresas e entrando também nos negócios da guerra. Apesar de afirmarem que são empresas neutras, elas foram articuladas por aquilo que se chama o complexo militar-industrial dos EUA.”
O que é esse complexo militar-industrial-dataficado?
“O termo complexo militar-industrial, popularizado pelo presidente dos EUA Dwight Eisenhower, explica a fusão das empresas com o Pentágono. No passado, empresas como a Lockheed eram meras fornecedoras de produtos. Com a IA e a coleta de dados em grande escala, as big techs agora estão integradas ao coração da estratégia de guerra americana.”
Qual a relação das big techs com a Faixa de Gaza?
“O primeiro grande laboratório do uso de IA para fixação de alvos militares foi a Faixa de Gaza. Os dados coletados das redes sociais podem ser utilizados para identificar alvos, resultando em ataques que podem até atingir civis, pois são criados a partir de padrões obtidos em dados subjacentes.”
Como funciona esse mapeamento da população civil para fins militares?
“A IA modula uma ‘máquina de alvos’, que possui acesso a dados de toda a população. As informações coletadas permitem que a IA identifique possíveis militantes a partir de rastros digitais, criando um padrão que pode resultar em ações militares.”
Quais políticas públicas o Brasil deveria desenvolver para alcançar a soberania digital?
“A soberania nacional não existe sem soberania tecnológica. O Brasil precisa construir uma infraestrutura digital própria que proteja dados essenciais e não permita que informações críticas fiquem nas mãos de empresas de fora.”
Essas declarações revelam as complexas relações entre tecnologia, guerra e segurança nacional, além das implicações diretas para a soberania digital brasileira. A discussão se torna ainda mais urgente frente a um cenário global permeado por desafios tecnológicos e estratégicos emergentes.
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Fonte: Agencia Brasil.
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