Conflito no Pará: Líder Indígena Alessandra Korap Munduruku Questiona Venda de Créditos de Carbono
A líder indígena Alessandra Korap Munduruku, conhecida por sua luta incansável contra grileiros, garimpeiros e outros adversários, agora se vê no epicentro de um embate contra o governo do estado do Pará e o mercado global de carbono. Natural de Itaituba, no Médio Tapajós, Alessandra critica veementemente o acordo fechado entre o governador Helder Barbalho (MDB) e a Coalizão LEAF, que resultou na negociação de quase US$ 180 milhões (cerca de R$ 995 milhões) em créditos de carbono, oriundos das reduções no desmatamento entre 2023 e 2026. O contrato, apesar de suscitar um pedido de liminar por parte do Ministério Público Federal (MPF) para sua anulação, foi ratificado pela Justiça Federal, que permitiu o trâmite regular do processo.
Durante sua participação no TEDxAmazônia 2025, Alessandra compartilhou suas preocupações sobre a aplicação desses recursos e os possíveis impactos sobre a vida dos povos indígenas. Em uma entrevista à Agência Brasil, ela enfatizou a falta de consulta adequada aos grupos indígenas, afirmando que os acordos e discussões sobre crédito de carbono não levam em conta as comunidades locais, que enfrentam problemas urgentes como a falta de água potável, saúde e educação. "A única solução que vemos para nossos problemas é a venda de créditos de carbono", lamentou Alessandra, destacando a necessidade de um protocolo de consulta que garanta a participação efetiva dos indígenas em decisões que afetam diretamente suas vidas e territórios.
Alessandra também levantou preocupações sobre a intenção do governo em priorizar a venda de créditos de carbono em detrimento de questões prementes que afetam os povos originários. Em sua visão, as promessas de bilhões em receita podem levar à divisão e conflitos entre os próprios indígenas, uma vez que muitos não têm experiência em gerenciar recursos financeiros dessa magnitude. "Estamos lutando pela preservação de nossos modos de vida", afirmou a líder, que se opõe à ideia de que a preservação ambiental deva ser mediada por interesses capitalistas.
Em resposta às críticas, o governo do Pará indicou, em nota, que tem realizado um "amplo processo de consultas a povos e comunidades tradicionais", assegurando que o contrato com a Coalizão LEAF é um "pré-acordo" que não gera obrigações antes da verificação das emissões. Essa dinâmica evidencia a complexidade do debate sobre créditos de carbono, que à primeira vista parece ser uma solução para questões ambientais, mas se revela uma arena de disputas que envolvem direitos territoriais, preservação cultural e justiça social.
Alessandra, que tem viajado internacionalmente para levar a voz dos indígenas a diversos parlamentos, insiste que o problema não é exclusivo dos povos indígenas, mas um desafio que afeta a todos. Ela busca um espaço para expor os danos causados por políticas públicas que não atendem às necessidades reais das comunidades que habitam a Amazônia. A urgência em discutir e repensar a relação entre desenvolvimento, preservação e direitos indígenas nunca foi tão premente como nos dias atuais.
Nota do governo do Pará: O governo afirma que o contrato celebrado com a Coalizão LEAF está em conformidade com as leis e que tem buscado ouvir as comunidades locais como parte de um processo histórico de consultas.
A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite da Motiva, uma das principais apoiadoras do TEDxAmazônia.
Mercado de carbono ameaça vida indígena, diz Alessandra Munduruku
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente