Indígenas Rikbaktsa Retomam Produção de Borracha como Alternativa Sustentável
No noroeste do estado de Mato Grosso, o povo indígena Rikbaktsa está ressurgindo como produtor de borracha, uma atividade que havia sido abandonada por mais de uma década. Essa iniciativa não apenas promete gerar renda para as comunidades locais, mas também desempenha um papel crucial na preservação das seringueiras, conhecidas como as "mães da floresta". O novo ciclo da produção de borracha se insere em um cenário de transformação, em que os indígenas buscam estabelecer acordos diretos com empresas como a Michelin, que historicamente compra borracha da Amazônia. A prática de extração do látex será realizada de maneira sustentável, respeitando ciclos naturais e assegurando que o produto extraído não comprometa a saúde das árvores.
As seringueiras são abundantes na região e têm um potencial de vida que pode ultrapassar 200 anos. Porém, o passado do povo Rikbaktsa é marcado por conflitos territoriais relacionados à exploração da borracha nas décadas de 1940 a 1960. Durante anos, a atividade de extração enfrentou desafios, especialmente com preços desanimadores, como R$ 0,50 por quilo, o que levou muitos a desistirem do trabalho.
O projeto "Juntos pela Amazônia – Revitalização da Cadeia Extrativista da Borracha", que conta com o apoio de diversas organizações, incluindo a ONG Memorial Chico Mendes e a patrocinadora Petrobras, surge como um novo impulso para os Rikbaktsa. A ação busca não apenas facilitar o escoamento do produto, mas também oferecer formação e logística para apoiar os extrativistas. O projeto Biodiverso, por sua vez, atua como um elo entre o povo Rikbaktsa e os compradores, reforçando o compromisso com práticas sustentáveis e garantindo acordos com condições mais justas.
Relação Com a Natureza e a Nova Geração
Os líderes Rikbaktsa destacam que a preservação da floresta é um legado para as futuras gerações. O cuidado durante a extração do látex, com cortes rasos e intervalos prolongados para recuperação das seringueiras, revela um profundo respeito pela natureza que permeia a cultura indígena. Donato Bibitata, um extrativista de 67 anos que retorna à atividade, enfatiza a importância de cuidar das árvores: “Se não machucar a seringueira, ela dura muito, vixe, mas dura”.
O reaparecimento de interesses na extração de látex pelas novas gerações, como Rogerderson Natsitsabui, de 30 anos, demonstra uma conexão entre a tradição e a aspiração moderna. Ele busca equilibrar a extração de látex com seus objetivos acadêmicos de estudar direito e, assim, defender sua aldeia. Essa sinergia entre passado e futuro evidencia um potencial de desenvolvimento que alia tradições indígenas e necessidades contemporâneas.
Expectativas e Resultados do Projeto
O projeto Biodiverso espera que, até 2027, 90 toneladas de borracha nativa sejam comercializadas, beneficiando diversas Terras Indígenas (TIs) na região. Esse número representa uma retomada significativa em comparação ao passado, quando foram produzidas apenas 17 toneladas em 2008. Além da produção de borracha, o projeto se propõe a apoiar a extração de 800 toneladas de castanha e 15 toneladas de óleo de copaíba.
Com a expectativa de comercialização de borracha a preços mais justos, como R$ 13 por quilo para a Michelin a partir de 2025, os Rikbaktsa vislumbram uma nova era de dignidade e autonomia econômica. A busca por essa parceria direta sem intermediários reflete uma mudança de paradigma, onde valor agregado e sustentabilidade são priorizados, afastando-se de práticas de exploração do passado.
Sustentabilidade e Apoio ao Povo Rikbaktsa
Com a intenção de proteger seus territórios e promover a conservação da floresta, o povo Rikbaktsa encontra no projeto Biodiverso não apenas uma maneira de obter renda, mas também uma forma de se afirmar como guardiões de sua terra. O apoio da Petrobras e outras organizações no incentivo a práticas sustentáveis, de preservação e educação ambiental reafirma a necessidade de conciliar desenvolvimento econômico e compromisso com o meio ambiente.
Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil
A equipe da Agência Brasil visitou as aldeias nas TIs Erikpatsa e Japuíra a convite da Petrobras, patrocinadora do projeto Biodiverso.
Povo Rikbaktsa volta a extrair látex sem patrões e respeitando a mata
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente