Relatório de Conflitos de Mineração 2024: Mais de um milhão de pessoas afetadas no Brasil
O Relatório de Conflitos de Mineração 2024, elaborado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que no ano passado, mais de um milhão de pessoas foram impactadas por conflitos relacionados à mineração e questão hídrica em território brasileiro. O estudo, divulgado este mês, revela um alarmante dado: foram registrados, em média, 2,4 conflitos por dia, totalizando 975 ocorrências em 736 localidades, com a única exceção sendo o Distrito Federal. Apesar da redução do número de atingidos — cerca de 50% em comparação ao ano anterior — houve um aumento significativo nas áreas afetadas, com 329 novos locais reportados.
Luiz Jardim Wanderley, professor de Geografia da UFF e coordenador da pesquisa, aponta que a expansão espacial dos conflitos é preocupante. “Mais de 300 conflitos foram identificados em áreas que nunca haviam sido reportadas, o que revela a dificuldade em mapear a totalidade das situações existentes,” destacou. Dos 26 estados com registros, Minas Gerais ficou em primeiro lugar, com 35,2% dos conflitos, seguido por Pará (17,8%), Bahia e Alagoas (6,9%).
Mapeamento de Reações às Violações
O relatório ainda registrou 168 reações diretas a violações no ano de 2024, sendo 73 apenas em Minas Gerais, evidenciando a gravidade da situação no estado. O estudo também trouxe à tona casos extremados de violência, com 32 mortes de trabalhadores registradas, além de ameaças, invasões de terras e outras formas de intimidação. A Vale S.A. e sua subsidiária Samarco foram identificadas como as empresas mais frequentemente envolvidas em conflitos, com 96 casos cada, seguidas pela Braskem e Hydro.
Posicionamento das Mineradoras
Em resposta às questões levantadas, a Vale apresentou uma nota reiterando seu compromisso com a gestão de riscos e o diálogo com as comunidades. De acordo com a mineradora, já foram disponibilizados canais de comunicação e promovidas reuniões de escuta ativa nas áreas afetadas pelos seus projetos. No caso específico de Brumadinho, a Vale mencionou ter executado 81% dos R$ 37,7 bilhões previstos no Acordo de Reparação Integral firmado em 2021.
A Samarco também se manifestou, destacando que assumiu responsabilidade pela reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. A empresa afirmou estar comprometida com a adoção de operações mais seguras e com o monitoramento contínuo das suas atividades.
Ainda assim, Luiz Jardim, coordenador da pesquisa, criticou a contradição das empresas que, enquanto afirmam seguir padrões rigorosos de responsabilidade social e ambiental, continuam a ser responsáveis por altos índices de conflitos e impactos negativos nas comunidades.
Reação da CSN
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) afirmou que não teve acesso prévio ao relatório e que, por isso, não podia se manifestar adequadamente sobre os dados. Em sua defesa, a empresa destacou sua atuação em diversos setores além da mineração e a ênfase em práticas responsáveis de gestão e diálogo com as comunidades.
A pesquisa e suas implicações revelam uma extensa e complexa rede de conflitos que ainda perpassa as operações de mineração no Brasil, demandando atenção e ação efetiva por parte tanto das empresas quanto das autoridades. A Agência Brasil está disponível para divulgar manifestações das demais empresas aludidas na matéria.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.
Relatório da UFF identifica novas áreas de conflitos de mineração
Fonte: Agencia Brasil.
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