13 de dezembro de 2025
EducaçãoDesigualdade social limita acesso à educação infantil no Brasil

Desigualdade social limita acesso à educação infantil no Brasil

Desigualdade Socioeconômica Afeta Acesso à Educação Infantil no Brasil

Um estudo inédito realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em colaboração com o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), aponta que as desigualdades socioeconômicas no Brasil impactam diretamente o acesso à educação infantil. A pesquisa, intitulada O desafio da equidade no acesso à educação infantil: uma análise do CadÚnico e do Censo Escolar, utilizou microdados de 2023 para traçar um panorama preocupante sobre o atendimento educacional das crianças de baixa renda. Os dados revelam que apenas 30% das 10 milhões de crianças de famílias de baixa renda registradas no Cadastro Único (CadÚnico) estavam matriculadas em creches em dezembro do ano passado. Na fase da pré-escola, obrigatória na educação básica, essa taxa subiu apenas para 72,5% entre crianças de 4 e 5 anos.

O CadÚnico é um registro essencial que concentra informações socioeconômicas de famílias de baixa renda, servindo como uma ferramenta crucial para a formulação de políticas de proteção social. Já o Censo Escolar, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), fornece uma visão abrangente sobre a educação básica no país, incluindo dados sobre infraestrutura, matrículas e docentes.

Mariana Luz, presidente da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, enfatiza a importância das creches na vida das crianças, especialmente das que se encontram em situações de vulnerabilidade. Segundo ela, as creches não são apenas centros de aprendizado, mas também espaços seguros que contribuem para o desenvolvimento das crianças. Apesar do aumento nas matrículas, a pesquisa revela que as crianças de famílias de baixa renda continuam a ser as mais subatendidas.

Cuiabá - Escola Municipal de Ensino Básico Antonio Ferreira Valentim
Antonio Cruz/Agência Brasil

Análise Regional e Fatores de Acesso

O estudo enfatiza que a desigualdade se intensifica nas diferentes regiões do Brasil. A Região Norte apresenta uma taxa alarmante de matrícula na creche, com apenas 16,4% das crianças de baixa renda atendidas, enquanto o Centro-Oeste e o Nordeste têm índices de 25% e 28,7%, respectivamente. Por outro lado, Sudeste e Sul mostraram taxas superiores à média nacional de 30%.

Mariana Luz destaca que o fator etário é determinante: quanto mais velha a criança, maior a probabilidade de matrícula na creche. Além disso, a pesquisa indica que a falta de informações sobre a importância da educação infantil afeta as escolhas das mães, que muitas vezes têm dificuldades em encontrar vagas disponíveis e se depararam com barreiras para deixar seus filhos em creches, o que limita o acesso das mulheres ao mercado de trabalho.

Os dados também revelam que famílias em municípios menores, com menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), enfrentam maiores desafios para garantir vagas em creches. As restrições financeiras e a falta de capacidade técnica agravam a situação, reforçando a necessidade de políticas públicas mais robustas para as áreas mais vulneráveis.

Questões de Raça, Gênero e Deficiência

Adicionalmente, o estudo aborda como questões de raça, gênero e deficiência influenciam o acesso à educação infantil. Crianças de famílias de baixa renda com cor de pele não branca têm 4% menos probabilidade de estar matriculadas na creche em comparação às crianças brancas. Este padrão se repete na pré-escola, onde a desigualdade de gênero mostra que as meninas têm 4,05% menos chances de estar matriculadas.

As crianças com deficiência enfrentam um cenário ainda mais desafiador, com 13,44% menos chances de acesso à pré-escola. Mariana Luz lamenta que essa desigualdade inicialmente ocultada se torna evidente desde a primeira etapa da educação infantil e destaca a importância de tratar essas diferenças como uma questão estrutural que precisa de atenção prioritária.

Impactos da Renda e da Moradia

A renda familiar e a infraestrutura do domicílio são outros fatores significativos na determinação do acesso à creche e à pré-escola. O estudo revela que, quando o responsável pela família possui um emprego formal, a probabilidade de a criança ingressar na creche aumenta em 32%. Por outro lado, a renda informal reduz as chances de matrícula tanto na creche quanto na pré-escola.

Mariana Luz apontou que crianças em domicílios com melhores condições de infraestrutura têm mais probabilidade de estar na escola. Por exemplo, morar em áreas urbanas bem iluminadas e organizadas favorece o acesso à educação infantil. Os programas de transferência de renda, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Programa Bolsa Família (PBF), também afetam as taxas de matrícula, aumentando as chances de acesso à educação infantil.

O Papel das Políticas Públicas

O estudo foi publicado em um momento crucial, com discussões em andamento sobre o novo Plano Nacional de Educação (PNE) e a Política Nacional Integrada da Primeira Infância (PNIPI). Mariana Luz defende que é essencial que as políticas públicas priorizem o acesso à educação infantil como um direito fundamental das crianças, independentemente de sua origem ou circunstância.

A pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal serve como um alerta para a necessidade de ações mais concretas e efetivas, que garantam a inclusão de todos os segmentos da população no sistema educacional brasileiro, visando um futuro mais equitativo.

Desigualdades sociais dificultam acesso à educação infantil no Brasil

Fonte: Agencia Brasil.

Educação

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