Brasil Pode Zerar Emissões de Gases de Efeito Estufa Até 2040, Afirmam Especialistas em Conferência Nacional
O Brasil tem potencial para zerar suas emissões de gases de efeito estufa até 2040, afirma o respeitado climatologista Carlos Nobre durante a palestra de abertura da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, realizada em Brasília. Nobre apresentou dados preliminares de um estudo em andamento que embasa essa meta ambiciosa. Ele enfatiza a necessidade de uma transição radical para uma matriz energética 100% limpa, além de práticas agrícolas que garantam a neutralidade em carbono. Para isso, o país precisaria implementar uma restauração em larga escala dos biomas, removendo até 600 milhões de toneladas de CO2 por ano a partir de 2040.
O cientista ressaltou que, apesar de melhorias nas emissões brasileiras, ainda há um longo caminho a percorrer. Em 2022, o Brasil foi o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, com uma média de 11 toneladas por pessoa anualmente. Em comparação, a China registrou 10,5 toneladas, a Índia 2 toneladas e os Estados Unidos 16,5 toneladas. Carlos Nobre destacou o risco de que, mesmo com políticas atuais voltadas para a restauração de 12 milhões de hectares e a meta de zerar o desmatamento até 2030, o país poderia continuar emitindo 1,2 bilhões de toneladas de CO2, caso mantenha o uso de energias fósseis e práticas agropecuárias de alta emissão.
Desafios Climáticos e Biodiversidade
O impacto das mudanças climáticas no Brasil é alarmante. Nobre alertou sobre os riscos iminentes, como o branqueamento de corais, que ameaça 25% da biodiversidade oceânica, e a possibilidade de desaparecimento de 99% das espécies se a temperatura global exceder 2 graus Celsius acima dos níveis industriais. A liberação de metano e gás carbônico de terras congeladas também é uma consequência direta do aquecimento, um fenômeno que poderá liberar mais de 200 bilhões de toneladas desses gases.
A Situação da Amazônia
A Amazônia, vital para a captura de carbono, enfrenta sérios riscos. Segundo Nobre, o sul da Amazônia passa por um prolongamento no período de seca, o que está aumentando a mortalidade das árvores e tornando a floresta um local de emissão de carbono. Essa região, que antes removia mais de 1,5 bilhão de toneladas de CO2, se aproxima de um ponto de não retorno, podendo gravemente comprometer seu papel ecossistêmico.
Nobre mencionou a crescente severidade das secas no Brasil, agravadas por fenômenos climáticos como El Niño e temperaturas mais elevadas no Atlântico. A interconexão entre a saúde da floresta Amazônica e a presença de "rios voadores" — responsáveis por grande parte das chuvas no Cerrado, Sul e Sudeste do Brasil — é uma questão crítica. Caso o desmatamento atinja entre 20% e 25% e a temperatura global suba para 2,5 graus, estima-se que o Brasil pode perder até 70% da Amazônia, resultando em um ecossistema consideravelmente degradado.
Carlos Nobre também destacou que outras regiões, como o Cerrado e a Caatinga, enfrentam riscos semelhantes e estão próximas do ponto de não retorno. Isso poderia resultar em ondas de calor mais intensas, riscos à saúde humana, e uma maior incorrência de extremos climáticos e pandemias.
Caminhos para uma Transição Sustentável
O cientista encerrou sua apresentação enfatizando a importância de adaptar as cidades para enfrentar esses desafios, focando em diminuir as desigualdades socioeconômicas e assegurar um legado sustentável para as futuras gerações. O contexto atual exige uma ação coordenada e comprometida do governo, setor privado e sociedade civil para que o Brasil não apenas alcance suas metas climáticas, mas também transforme sua matriz econômica em um modelo de sustentabilidade.
Fonte: Carlos Nobre – 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
Brasil pode zerar emissões até 2040, diz Carlos Nobre
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente